segunda-feira, abril 11, 2011

Imigrar para o Quebec - Pode se tornar uma ilusão, uma fachada?


Abaixo, transcrevo excelente texto da *Mariana Estevam, escrito em meados de 2007.

"Muitas pessoas se ressentem das dificuldades, das desigualdades, das injustiças, das diversas faces da violência existentes no Brasil e, assim idealizam o Quebec (ou o Canadá) como um porto seguro, uma terra de maravilhas.

E vem a desilusão.

Quem no Brasil tem excelente salário e emigra para o Quebec em busca de qualidade de vida - rapidamente vê que, comparativamente, o salário do Quebec é bem menor que o de São Paulo: trabalha-se mais e ganha-se bem menos. 

No Quebec são 12 salários por ano, contra os 13 salários no Brasil. 

No Quebec as férias variam entre uma ou duas semanas, enquanto no Brasil é de 4,3 semanas (um mês) e ainda se recebe um adicional de mais 1/3 do salário, ou seja pagamento de 6 semanas...

Outro ponto importantíssimo: o Brasil considera que o mês tem 240 horas mensais (para quem trabalha 8 horas por dia), ou 180 horas mensais (para as categorias que trabalham 6 horas diárias, como os bancários, por exemplo). No Brasil existe o pagamento do repouso remunerado.
No Quebec, a pessoa ganha a hora trabalhada. A semana pode ter 35 ou 40 horas. Assim, o mês tem 4,3 semanas, ou seja, 150,5 horas mensais ou 172 horas.

Não existe vale-refeição, nem vale-alimentação, nem vale-transporte.

Desde setembro de 2007, trabalhando num Centro de acolhimento, vivencio as dificuldades de muitos brasileiros (que chegaram entre 2002 e 2007) e que, com salário mínimo, vivem na linha da sobrevivência. 

Baixa renda
Há duas semanas vi num importante jornal de São Paulo uma matéria em que   a jornalista explica que a classe C brasileira tem renda média mensal de R$ 1.384,00... Fiquei surpresa ao ver que nominalmente a pessoa de baixa renda recebe praticamente o mesmo que o quebequense do salário mínimo (172 horas a 8$ a hora = 1.376,00 $).
E o baixa renda brasileiro ainda recebe benefícios indiretos para si: os vales (refeição, alimentação, transporte).

Às quartas-feiras não vou à universidade, e consigo chegar a casa, a tempo de assistir a uma parte do Téléjornal Montréal, no canal da Radio Canada (que começa às 18 horas). 

Hoje, chamou-me a atenção uma reportagem sobre a pobreza em Montreal, sobre os Pobres dos bairros ricos.

Nas ruas de certos bairros, a riqueza às vezes não é mais do que uma simples fachada. Westmount ou Outremont têm também os seus pobres. Pessoas que vivem um revés da fortuna, pessoas idosas que sempre habitaram lá, mas que têm agora problemas para pagar as suas taxas municipais. O jornalista Jean- Philippe Cipriani oferece um retrato dessa realidade, mostrando que, para se alimentar, as pessoas vão em buscar de refeições que são distribuídas (e cita o caso das que trabalham como empregada domésticas nas grandes residências, mas que necessitam ir aos centros de distribuição para que possam se alimentar)... 

O que é importante saber?

Antes dar o grande passo (ou o grande salto) é IMPRESCÍNDIVEL conhecer a realidade quebequense. 

Para uma empresa contratar um imigrante e pagar um salário razoável, é necessário uma boa justificativa. O imigrante deve ter competências fundamentais e que nenhum quebequense (com tais competências) tenha disputado a mesma vaga.

Por exemplo, um(a) secretário(a) de affaires juridiques que seja perfeitamente trilíngüe. Dificilmente haverá um(a) candidato(a) ao posto, pois será imprescindível que se redija em espanhol (ou em português, ou alemão, etc.). 
O mesmo vale para a empresa que fabrica motores de avião para a Embraer: engenheiros perfeitamente trilíngües. 

Quando a vaga oferece bom salário (e/ou outros benefícios) e não exige nada de extraordinário, o quebequense tem a vantagem de apresentar a experiência canadense. 
Quando o salário não atrai o quebequense, sempre há a possibilidade do estrangeiro ser o admitido.

Após três, quatro ou cinco anos, já se considera a experiência...

Quem tem filhos consegue a integração num tempo menor, pois participa mais ativamente: garderie, escola, encontros com professores, com outros pais, etc.
E em casa, os filhos reproduzem os comportamentos que aprendem com os colegas de sala, insistem em falar francês com os pais, etc. 
É uma dinâmica muito saudável.

Quando o BIQ insiste no francês, não basta que seja o francês para a entrevista; A entrevista é um pequeno ponto.

A vida do dia-a-dia é bem mais exigente. 

Quanto mais se conhece, mais fácil é encontrar o seu próprio caminho do sucesso."

*Mariana Estevam é professora de literaturas (brasileira, portuguesa, russa e francesa) e professora de línguas portuguesa e francesa. Desde 2000, é participante e uma das moderadoras do Portal "Brasileiros em Montreal - (Brasmontreal)", uma comunidade na internet criada pelo Eduardo Hutter, cujo link é: http://www.brasmontreal.net/ e o do forum da comunidade é: http://www.brasmontreal.net. Mariana teve seu processo aprovado em meados de 2006, quando ela tinha 53 anos de idade.

2 comentários:

Marcos Vidart disse...

Vanessa,

Maravilha este post. Muito rico apresentando vários pontos de vista. Na verdade é tudo muito pessoal, temos que refletir antes de qq decisão.
Obrigado, gostei muito.

Natalia e Marcos.

Anônimo disse...

Sandro, parabéns pelo blog! muito bem escrito e rico em detalhes...

Gosto bastante dos seus "causos" como o da mão que congelou!! rsrs

Continue escrevendo... vou acompanhar sempre! Quem sabe nos encontramos por aí no começo do ano que vem!! =)

abraços,

Eduardo - silveiraeduardo8@hotmail.com