quinta-feira, agosto 18, 2011

O que nos faz ser tão diferentes?

Agora pela manhã eu estava relendo alguns posts de blog's que acompanho e me deparei com um artigo escrito pela Gisele, em seu blog, artigo este escrito em Novembro de 2010 e trata do assunto do momento (conforme proposto pelo Wellington): Imigração e preconceito entre imigrantes.

Segue:

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O que nos faz ser tao diferente(s)?by Giselle Silva

Vou falar de um assunto que me incomoda há um tempo mas que só agora me sinto a vontade de escrever.
Sabemos que residente permanente aqui no Québec nem sempre é aquele que possui nível técnico ou universitário, que teve como investir dinheiro no processo de imigraçao e em cursos de línguas no Brasil. De fato, muitos canadenses nao sabem diferenciar muito bem estes "diferentes tipos de imigrantes" e ficam surpresos quando descobrem que passamos por um processo bem seletivo, onde pagamos taxas, comprovamos conhecimento linguístico, formaçao, experiência profissional, entre outras coisas. Um perfil bem diferente da maioria dos imigrantes do Québec. Acho super válido explicar qual é o perfil dos imigrantes brasileiros que estao aqui, que fomos selecionados, passamos por um processo e blá blá blá... mas fico desconfortável quando o assunto começa a tomar o rumo da superioridade e inferioridade entre os imigrantes. Sendo mais direta, falo do preconceito do imigrante contra o próprio imigrante. Do imigrante "qualificado" que se julga melhor do que o refugiado, que faz questao de apresentar o amigo québécois, mas nao faz questao nenhuma de trocar algumas palavras e conhecer um pouquinho sobre o imigrante refugiado.
Lembrando que, o Canada é um dos países que faz parte da ACNUR (Alto Comissáriado das Nações Unidas para os Refugiados), um órgao da ONU que dá apoio e proteçao aos refugiados do mundo. Àqueles que encontram-se fora de seu país de origem por sofrerem perseguiçoes devido à religiao, raça, nacionalidade, associaçao a determinado grupo ou opiniao política, etc.
Aqui no CEGEP tem até uma turma de francisaçao do Ministério de Imigraçao só para imigrantes que nao sao alfabetizados. Isso mesmo! O Québec dá um curso de francês para estes imigrantes, que nao tiveram a oportunidade de serem alfabetizados nem em sua própria língua.
Durante os cursos de francês tive a oportunidade de conhecer alguns imigrantes na situaçao de refugiado. Um casal da Sri Lanka que chegou no Canadá há mais de 2 anos com os 4 filhos e davam duro pra aprender a língua francesa que para eles sem dúvida nenhuma é mais dificil do que pra gente que tem uma língua materna latina. Eles diziam que na Sri Lanka eram ricos, mas que quando chegaram aqui ficaram pobres porque tiveram que investir todo o dinheiro para chegar no Québec com a familia.
Estudei também com um palestino, solteiro, formado em engenharia eletrônica, trabalhava aqui numa fábrica de madrugada e estudava francês de manha. Dava duro pra conseguir passar nas provas da ordem no Québec, melhorar o francês e no futuro poder trabalhar como engenheiro. Uma pessoa tao doce e tao sensível que tinha a capacidade de me emocionar com poucas palavras. Lembro-me dele falando que nao via a família há mais de 10 anos e que independente de onde ele estivesse seria sempre visto como refugiado. A Palestina oficialmente nao é considerada um país e o fato dele ter documentos palestinos que nao sao considerados válidos, faz dele uma pessoa sem pátria para o resto do mundo. "Palestinos são a maior população de desalojados do mundo". Pois é... uma pessoa que viveu uma história tao pesada, de identidade anulada pelo resto do mundo, pode ainda transmitir tanta doçura...
Sem contar o caso de uma amiga colombiana que fugiu da Colômbia com os filhos, deixando patrimônios porque estava ameaçada de morte por guerrilheiros a mando do marido. O que me fez tomar conhecimento de como as legislaçoes na Colômbia sao fragéis ou mesmo ausentes no que diz respeito aos direitos e proteçao da mulher.
Entao, histórias que a primeira vista sao bem melodramáticas, mas que a gente conhece muito bem pelos livros, jornais e filmes. Ouvir pessoalmente de quem passou e passa ainda pela experiência, me faz mais do que nunca ter respeito e admiraçao por eles.


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